terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sócrates e os Sofistas[1]

Daniele Kovalski[2]


Neste texto estudaremos quem foi o filósofo Sócrates. Antes de tudo, falaremos sobre o contexto histórico e filosófico da época, com o objetivo de situar o período em que viveram o filósofo e seus principais opositores, os sofistas.
Entre o fim do século V a.C e fim do século IV a.C, Atenas era o maior centro cultural, social e político da Grécia Antiga. Nesse momento, a filosofia se voltou para questões antropológicas, ou seja, passou a abordar temas ligados às questões humanas, como a ética e a política, bem como o qual o lugar do homem no mundo.
A época de grande florescimento da democracia, pois a igualdade dos homens perante a lei e o direito de todos de participarem do governo da pólis discutindo e defendendo publicamente as decisões a serem tomadas, deu origem a uma nova personagem política: o cidadão.
Uma das grandes conseqüências do surgimento do cidadão foi a mudança radical na estrutura educacional grega, que atendendo aos interesses da aristocracia rural e dos militares, privilegiava uma educação voltada para as artes da guerra, com o objetivo de formar guerreiros belos e bons. A beleza era adquirida através da ginástica, da dança e dos jogos de guerra, baseados nos heróis de Tróia; a bondade era aprendida nos poemas de poetas como Hesíodo e Homero, que exaltavam as virtudes dos deuses, que era praticada pelos grandes heróis.
No entanto, com o surgimento de uma classe social urbana, que enriquecera através do artesanato e do comércio, surgiu também o desejo de exercer poder político, antes um privilégio dos aristocratas. Dessa forma, a educação que buscava formar homens que dominavam as artes da guerra, foi sendo substituída pela educação que visava formar bons cidadãos. Isso porque como um cidadão, ao exercer sua cidadania, precisava opinar e discutir nas assembléias, a nova estrutura educacional voltou-se para formar bons oradores, que soubessem falar em público e persuadissem seus opositores políticos.
É nesse contexto da nova educação ateniense que surgem os sofistas, primeiros filósofos do período antropológico da filosofia. Os sofistas eram extremamente críticos aos ensinamentos dos filósofos cosmológicos (pré-socráticos), pois alegavam que suas idéias continham erros e contradições, mas que, sobretudo, eram inúteis para vida da pólis. Assim, propuseram-se a ensinar aos jovens atenienses a arte da oratória e da retórica, com o intuito de formar bons cidadãos. Nisso incluía-se a persuasão, a fim de que em uma assembléia, esses jovens soubessem argumentar contra ou a favor de uma opinião e saíssem vitoriosos de uma discussão.
Eis, então, que surge Sócrates (470 a.C -399 a.C). Apesar de partilhar com os sofistas a idéia de que a educação guerreira e a filosofia cosmológica não atendiam às exigências da nova sociedade grega, Sócrates levantou-se contra eles, por acreditar que eles não eram filósofos e corrompiam a juventude grega, por conferir ao erro e a mentira, o mesmo valor que a verdade, pois persuadir implicava em defender qualquer tipo de idéia, por pior que ela fosse.
Para Sócrates, porém, antes da busca de qualquer conhecimento, o homem deveria primeiro, conhecer a si próprio. O autoconhecimento, então, era requisito para outros conhecimentos verdadeiros.
A maior fonte histórica e filosófica de Sócrates são as obras de seus discípulos, em especial o maior e mais importante deles, Platão. De acordo com as obras platônicas, Sócrates andava pelas ruas e praças da Atenas, fazendo perguntas para as pessoas sobre as idéias e os valores que acreditavam. A maioria dessas pessoas, ao mesmo que se embaraçavam com seus questionamentos, ficavam também curiosas, pois ao tentar respondê-las, percebiam que nunca haviam realmente pensado sobre essas questões. Tais perguntas também causavam certa irritação, porque Sócrates não respondia nenhuma delas cuja resposta fosse “não sei”, como faria um sofista, que sempre tinha resposta para tudo. Ele simplesmente dizia que também não sabia, e era esse o motivo de sua pergunta. Daí sua conhecida frase “só sei que nada sei”
Sócrates buscava, sobretudo, o conhecimento real de uma idéia e seu valor em si mesmos, ou seja, de sua essência, que era obtida através do exercício do pensamento. O que o pensamento conhece pela essência, chama-se conceito.
O filósofo diferenciava conceito de opinião, uma vez que esta variava de uma pessoa para outra, mudando também de acordo com o contexto da época e do lugar em que se encontrava. O conceito é uma verdade universal, que independe de questões temporais e espaciais, é descoberta pelo pensamento, que a reconhece como essência de alguma coisa.
As perguntas de Sócrates faziam com que os atenienses pensassem não só sobre si próprios, mas também sobre a pólis, pois questionava as idéias, valores, práticas e comportamentos que as pessoas julgavam como verdadeiros, suscitando duvidas e incertezas contra coisas que pareciam certes e evidentes.
Os questionamentos de Sócrates, porém, tornaram-se uma preocupação para os poderosos de Atenas. Toda forma de pensamento que questione, duvide e investigue, causa medo sobre aqueles que tem poder, uma vez que é mais conveniente para eles que todos pensem e aceitem as coisas como elas são ou pelo menos como lhes é dito para acreditarem que são. Nesse sentido, Sócrates, tornou-se, na visão dos poderosos atenienses, um perigo, pois fazia ele os jovens gregos pensarem. Com isso, o filósofo foi acusado de desrespeitar os deuses, violar a lei e corromper os jovens. Levado a julgamento pela assembléia, Sócrates não se defendeu das acusações que recebera, pois acreditava que a defesa, implicava em aceitação daquilo que lhe acusavam, preferindo assim, a morte que renunciar a filosofia. Foi, então, obrigada a suicidar-se, tomando veneno (cicuta).





REFERÊNCIAS

REALE, G; ANTISERE, D. História da Filosofia. Vol. I. São Paulo: Paulus, 1991.
PLATÃO; Apologia de Sócrates. Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1972
[1] Texto apresentado à disciplina de Prática Profissional IV, ministrada pela Prof. M. Rosâni Kucarz, como requisito para obtenção de nota parcial.
[2] Graduanda do 4º período do curso de Licenciatura em Filosofia, do Centro de Teologia e Ciências Humanas, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PUCPR

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