terça-feira, 24 de novembro de 2009

Como os Gregos pensavam o mito

por Robson Rodrigues Mendonça

O pensamento ao qual se irá falar retrata a busca das civilizações por entendimento do mundo a sua volta e das reações internas que o ser humano, em geral, comete nesse processo. Nesse sentido, o mundo grego se torna pioneiro em retratar essas relações de forma que traduza a realidade na íntegra, ao relatarem episódios em que os deuses interpelam os homens e, assim, os poetas tentam traduzir as crenças e o imaginário popular.

Mythos[1]

A concepção atual de nossa sociedade ocidental é derivada desse pensamento a cerca dessas divindades descritas pelos gregos.
Os contos fantasiosos, as tragédias, as guerras e tantos outros episódios, retratados através da literatura, são os marcos de um pensamento alegórico que visava explicar a realidade vivida através da compreensão do transcendente. Estes que traziam, em seu conteúdo, histórias em que os Deuses, cultuados pelo povo grego, interviam diretamente na realidade e no dia-a-dia das pessoas.
O mito aparece como uma explicação dos fenômenos ainda não desvendados pelo homem e, nesse sentido, são atribuídos aos Deuses tais fenômenos. De forma fantasiosa e simbólica, tentava-se explicar os acontecimentos da sociedade. Essa era uma tradição que antes de terem suas histórias compiladas pelos poetas, se transmitia de forma oral.
Os poetas, estes que eram transmissores dessa rica cultura, tinham sua importância na educação e na formação espiritual do Homem grego. Este fato denota o pioneirismo desse povo que se diferencia neste ponto das demais civilizações que não davam tanta importância a seus poetas.
O mito, em si, carregava o espírito desse povo e como na Teogonia de Hesíodo, que busca explicar a origem dos Deuses, consequentemente, o surgimento da civilização, explicar a realidade de uma forma condizente com as crenças populares.
Muitos desses Deuses narrados na Teogonia coincidem com partes do universo e com fenômenos do cosmos e, por isso, passa a ser chamada também de “cosmogonia” que é uma explicação mito-poético e fantasiosa da construção do universo de fenômenos do universo.
O mito no mundo grego, por apresentar tais características que de certa forma são retratações da realidade, é considerado fundamento (suporte) essencial para que alguns pensadores dessa tivessem a possibilidade de elaborar uma forma crítica de pensamento que chamamos filosofia.


Referências

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990-1991. v. 1

VERNANT, Jean Pierre. Mito e sociedade na Grécia antiga. 2. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1999.
[1] Palavra grega que significa mito.

Os Pré Socráticos[1]

Daniele Kovalski[2]


Os dois primeiros períodos da filosofia antiga tomam como referencia o filósofo ateniense Sócrates, dividindo-se em pré-socrático e socrático. Neste estudo, abordaremos o período pré-socrático, também chamado cosmológico (que se inicia em fins do século VII A.C, estendendo-se ate fins do século V A.C), apresentando suas principais características e filósofos.
Nesse período, a principal preocupação dos primeiros filósofos girava em torno das questões sobre a origem, ordem e transformação do universo. Nessa perspectiva, afirmavam não existir uma criação de mundo,ou seja, que do nada ele tenha surgido, conferindo-lhe um status de eternidade, pois no mundo ou na natureza, tudo se transforma em outra coisa, jamais desaparecendo.
A eternidade e imortalidade do que nasce e do que volta é invisível aos olhos do corpo, sendo acessível somente ao pensamento. Esse fundo perene, é um elemento chave da Natureza e denomina-se physis, que em grego significa surgir, brotar; a physis dá origem a todos os seres, que são mortais, ao contrário dela própria, que é imortal. Todos os seres são gerados e mortais, porém estão em contínua transformação, como por exemplo, o seco que fica úmido, a semente que vira arvore, a criança que cresce e vira adulta, etc.
Essas transformações denotam um contínuo movimento de mundo, que se chama devir. O devir segue a regras rígidas, determinadas pela physis e conhecido pelo pensamento, e mostra que toda mudança é uma passagem, não caótica, ao seu contrário, como por exemplo dia-noite, claro-escuro, frio-quente, etc.
Os diversos filósofos do período pré-socrático escolheram distintas physis como princípio da Natureza: para Tales a água era o elemento primordial; para Anaxímenes era o ar ou frio; Heráclito enxergava no fogo, o princípio eterno e imutável que está na natureza.
A seguir, listaremos os principais filósofos pré socráticos e suas principais escolas:
Filósofos da Escola Jônica: São filósofos vindos da Jônia, uma região da costa sudoeste da Anatólia, hoje na Turquia. Ficava entre Mileto e Fócia, e era banhada pelo mar Egeu (e não pelo mar Jônico, como se pode pensar). Doze cidades se diziam jônicas: Esmirna, Quios, Mileto, Éfeso, Colofon, Mionte, Priente, Lebedos, Teos, Clazomenes, Éritras e Fócia. Os principais filosófos foram Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso;
Filósofos da Escola Itálica: Também chamada escola pitagórica, é escola dos filósofos vindos de Crótona, ilha no sul da Itália. Os principais nomes são Pitágoras e Filolau de Crotona
Filósofos da Escola Eleata: escola filosófica cujos pensadores provêem de Eléia, ilha ao sul da Itália. Destacam-se Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia;
Filósofos da Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazomena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera


Referência:
REALE, G; ANTISERE, D. História da Filosofia. Vol. I. São Paulo: Paulus, 1991.
[1] Texto apresentado à professora Rosâni Kucarz para a disciplina de Prática Profissional IV
[2] Graduanda do 4º período de Licenciatura em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Heráclito e Parmênides[1]

Daniele Kovalski[2]

1 Apresentação

Neste texto, serão estudados dois dos mais importantes filósofos do período pré socrático: Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia. Primeiramente, abordaremos cada um em separado, para nos familiarizarmos melhor com o pensamento de ambos, para depois, finalmente, compreendermos a contraposição do pensamento deles.

2 Heráclito

Heráclito nasceu em Efeso (540 a.C-470 a.C) e tanto sua vida, como sua obra são um tanto quanto obscuras. Era conhecido como um homem melancólico, que nutria profundo desprezo pelo povo, pelos poetas, pelos filósofos e pela religião, mantendo-se também distante da política. O único livro de que se tem noticia que tenha escrito, foi perdido já durante a Antiguidade, restando dele alguns fragmentos, que são na verdade aforismos[3].
Sua filosofia foi regulada pela idéia de logos (lei, princípio) que a tudo governa. Esse logos é passível de ser ouvido pelas pessoas, unifica os opostos e é associado ao fogo, que possui ascendência sobre os outros quatro elementos.
A idéia do logos eterno e divino, o contraste entre mundo instável e aparências, e a ordem que os regula, foram influentes nas filosofias platônica e estóica[4].
Heráclito é considerado o pai da dialética, já que seu pensamento tratava da questão do devir – o vir a ser, implicando, assim, numa idéia de constante tensão e revezamento entre os contrários. A dialética pode ser exterior, quando o raciocínio ocorre de dentro para fora ou interior ao objeto, quando se foca na observação do ser. Aquilo que é real seria, na verdade, fruto da mudança e de um embate entre os opostos.
O conflito entre os opostos dá origem à concórdia e a harmonia, por permitir que o ser seja ao mesmo tempo uno e mutável perante o contexto em que vive. Com isso é possível que os opostos ocupem o mesmo espaço, ao mesmo tempo, como se fossem um circulo perfeito.
Outra doutrina conhecida de Heráclito é o seu conceito de fluxo de todas as coisas, exemplificada pela seguinte idéia: um homem não pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque novas águas estão sempre fluindo. A doutrina o fluxo, seria posteriormente melhor desenvolvida por seu discípulo, Crátilo
Estes postulados tornaram possível a concepção de uma arché – a origem de tudo o que existe (fogo, ar, água e terra). O fogo é o elemento primordial para Heráclito, pelo fato desse elemento transmutar-se em tudo que existe, gerando, com isso, um constante fluxo de mutações.


3 Parmênides

Parmênides nasceu em Eléia, seu pensamento está exposto em um poema chamado Sobre a Natureza que possui duas características, uma que trata do caminho da verdade e outra que trata da opinião – aquilo de que não se pode ter certeza. Sua doutrina possui a perspectiva de unidade e imobilidade do ser, que é uno, não gerado e imutável. Tudo o que existe, então, é eterno, imutável, indestrutível, indivisível e, portanto, imóvel.
O pensamento do filósofo de Elea implica em conflito entre razão e experiência – está possui para ele uma natureza ilusória. É comum considerar que Parmênides seja o fundador da metafísica ocidental, devido a sua distinção do Ser e do Não Ser. Para Parmênides, o pensamento pode alcançar o conhecimento e a compreensão, sendo, portanto, uma percepção do domínio do ser, correspondente às coisas percebidas pela mente, ao contrário das sensações, que são ilusórias e fazem parte do domínio do não ser.

4 Parmênides X Heráclito

Tradicionalmente, o pensamento de Heráclito e Parmênides são vistos como antagônicos. Trata-se, provavelmente, do primeiro conflito filosófico, que acabou por originar duas corrente diferentes de pensamento.
Heráclito concebia um mundo de perpétua mutação, em que tudo fluia, ao passo que Parmênides, julgava a mutação como algo ilusório. A partir da pergunta “o que é”, tentava compreender o que há por trás das transformações e das mutações. Afirmava o filósofo eleata, que aquilo que é jamais pode deixar de ser, muito embora sofra algumas mudanças que, no entanto, são superficiais demais, não afetando, por isso, a essência do ser.
Sem duvida, Heráclito e seu mobilismo, valorizam a pluralidade do real e o quanto a experiência pode contribuir para o conhecimento da realidade, enquanto Parmênides e seu monismo buscam o único e o estável, o eterno e o perfeito, que não são dados de imediato pelos sentidos, sendo revelados somente ao nosso pensamento pela reflexão.



5 Referências
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega. Porto Alegre: Edipucrs, 2003

[1] Texto apresentado à Prof. Rosâni Kucarz, para obtenção de nota parcial na disciplina de Prática Profissional IV
[2] Graduanda do 4º período de Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
[3] Sentenças que em poucas palavras revelam uma regra ou um principio de longo alcance
[4] A escola estóica foi fundada no século III a.C. por Zenão de Cítio (de Cittium), e preconizava a indiferença à dor de ânimo oposta aos males e agruras da vida, em que reunia seus discípulos sob pórticos ("stoa", em grego) situados em templos, mercados e ginásios. Foi bastante influenciada pelas doutrinas cínica e epicurista, além da clara influência de Sócrates.

Sócrates e os Sofistas[1]

Daniele Kovalski[2]


Neste texto estudaremos quem foi o filósofo Sócrates. Antes de tudo, falaremos sobre o contexto histórico e filosófico da época, com o objetivo de situar o período em que viveram o filósofo e seus principais opositores, os sofistas.
Entre o fim do século V a.C e fim do século IV a.C, Atenas era o maior centro cultural, social e político da Grécia Antiga. Nesse momento, a filosofia se voltou para questões antropológicas, ou seja, passou a abordar temas ligados às questões humanas, como a ética e a política, bem como o qual o lugar do homem no mundo.
A época de grande florescimento da democracia, pois a igualdade dos homens perante a lei e o direito de todos de participarem do governo da pólis discutindo e defendendo publicamente as decisões a serem tomadas, deu origem a uma nova personagem política: o cidadão.
Uma das grandes conseqüências do surgimento do cidadão foi a mudança radical na estrutura educacional grega, que atendendo aos interesses da aristocracia rural e dos militares, privilegiava uma educação voltada para as artes da guerra, com o objetivo de formar guerreiros belos e bons. A beleza era adquirida através da ginástica, da dança e dos jogos de guerra, baseados nos heróis de Tróia; a bondade era aprendida nos poemas de poetas como Hesíodo e Homero, que exaltavam as virtudes dos deuses, que era praticada pelos grandes heróis.
No entanto, com o surgimento de uma classe social urbana, que enriquecera através do artesanato e do comércio, surgiu também o desejo de exercer poder político, antes um privilégio dos aristocratas. Dessa forma, a educação que buscava formar homens que dominavam as artes da guerra, foi sendo substituída pela educação que visava formar bons cidadãos. Isso porque como um cidadão, ao exercer sua cidadania, precisava opinar e discutir nas assembléias, a nova estrutura educacional voltou-se para formar bons oradores, que soubessem falar em público e persuadissem seus opositores políticos.
É nesse contexto da nova educação ateniense que surgem os sofistas, primeiros filósofos do período antropológico da filosofia. Os sofistas eram extremamente críticos aos ensinamentos dos filósofos cosmológicos (pré-socráticos), pois alegavam que suas idéias continham erros e contradições, mas que, sobretudo, eram inúteis para vida da pólis. Assim, propuseram-se a ensinar aos jovens atenienses a arte da oratória e da retórica, com o intuito de formar bons cidadãos. Nisso incluía-se a persuasão, a fim de que em uma assembléia, esses jovens soubessem argumentar contra ou a favor de uma opinião e saíssem vitoriosos de uma discussão.
Eis, então, que surge Sócrates (470 a.C -399 a.C). Apesar de partilhar com os sofistas a idéia de que a educação guerreira e a filosofia cosmológica não atendiam às exigências da nova sociedade grega, Sócrates levantou-se contra eles, por acreditar que eles não eram filósofos e corrompiam a juventude grega, por conferir ao erro e a mentira, o mesmo valor que a verdade, pois persuadir implicava em defender qualquer tipo de idéia, por pior que ela fosse.
Para Sócrates, porém, antes da busca de qualquer conhecimento, o homem deveria primeiro, conhecer a si próprio. O autoconhecimento, então, era requisito para outros conhecimentos verdadeiros.
A maior fonte histórica e filosófica de Sócrates são as obras de seus discípulos, em especial o maior e mais importante deles, Platão. De acordo com as obras platônicas, Sócrates andava pelas ruas e praças da Atenas, fazendo perguntas para as pessoas sobre as idéias e os valores que acreditavam. A maioria dessas pessoas, ao mesmo que se embaraçavam com seus questionamentos, ficavam também curiosas, pois ao tentar respondê-las, percebiam que nunca haviam realmente pensado sobre essas questões. Tais perguntas também causavam certa irritação, porque Sócrates não respondia nenhuma delas cuja resposta fosse “não sei”, como faria um sofista, que sempre tinha resposta para tudo. Ele simplesmente dizia que também não sabia, e era esse o motivo de sua pergunta. Daí sua conhecida frase “só sei que nada sei”
Sócrates buscava, sobretudo, o conhecimento real de uma idéia e seu valor em si mesmos, ou seja, de sua essência, que era obtida através do exercício do pensamento. O que o pensamento conhece pela essência, chama-se conceito.
O filósofo diferenciava conceito de opinião, uma vez que esta variava de uma pessoa para outra, mudando também de acordo com o contexto da época e do lugar em que se encontrava. O conceito é uma verdade universal, que independe de questões temporais e espaciais, é descoberta pelo pensamento, que a reconhece como essência de alguma coisa.
As perguntas de Sócrates faziam com que os atenienses pensassem não só sobre si próprios, mas também sobre a pólis, pois questionava as idéias, valores, práticas e comportamentos que as pessoas julgavam como verdadeiros, suscitando duvidas e incertezas contra coisas que pareciam certes e evidentes.
Os questionamentos de Sócrates, porém, tornaram-se uma preocupação para os poderosos de Atenas. Toda forma de pensamento que questione, duvide e investigue, causa medo sobre aqueles que tem poder, uma vez que é mais conveniente para eles que todos pensem e aceitem as coisas como elas são ou pelo menos como lhes é dito para acreditarem que são. Nesse sentido, Sócrates, tornou-se, na visão dos poderosos atenienses, um perigo, pois fazia ele os jovens gregos pensarem. Com isso, o filósofo foi acusado de desrespeitar os deuses, violar a lei e corromper os jovens. Levado a julgamento pela assembléia, Sócrates não se defendeu das acusações que recebera, pois acreditava que a defesa, implicava em aceitação daquilo que lhe acusavam, preferindo assim, a morte que renunciar a filosofia. Foi, então, obrigada a suicidar-se, tomando veneno (cicuta).





REFERÊNCIAS

REALE, G; ANTISERE, D. História da Filosofia. Vol. I. São Paulo: Paulus, 1991.
PLATÃO; Apologia de Sócrates. Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1972
[1] Texto apresentado à disciplina de Prática Profissional IV, ministrada pela Prof. M. Rosâni Kucarz, como requisito para obtenção de nota parcial.
[2] Graduanda do 4º período do curso de Licenciatura em Filosofia, do Centro de Teologia e Ciências Humanas, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PUCPR

O mito na sociedade Contemporânea

por Helcio Antunes Garcia

Alguns pensadores do século passado, os positivistas – Augusto Comte (1798-1857) é o principal representante – afirmavam que o progresso tecnocientífico faria o homem abandonar totalmente suas crenças, passando a aceitar somente as explicações resultantes das pesquisas científicas. Passaram-se mais de cem anos, a ciência e a tecnologia progrediram, talvez mais do que Comte imaginasse, e as crenças continuam presentes. Aliás, constata-se que, nos países mais desenvolvidos, o sentimento de religiosidade vem sendo revitalizado. Isto prova duas coisas: primeiro, a ciência não é capaz de dar todas as respostas de que necessita o homem; segundo, por mais que a ciência e a tecnologia progridam, elas não são capazes de satisfazer a sede humana do infinito.
Por isso, hoje podemos encontrar fortes indícios das crenças míticas. Os mitos não ficaram perdidos num passado remoto; muitos de seus elementos estão ainda claramente presentes na atualidade. Superstições, crendices, invocações, promessas, benzeções, rezas, previsões, rituais de passagem, invocações de espíritos fazem parte não só das assim chamadas sociedades menos desenvolvidas, mas podem ser encontrados nos mais refinados ambientes das sociedades avançadas. O mito está fortemente vivo, apesar da negatividade de alguns. A Religião, a Filosofia e a Ciência não conseguiram eliminá-lo. Somente diminuíram sua importância.

O mito moderno

Além da preservação de alguns elementos dos assim chamados mitos primitivos, na sociedade moderna, desenvolveu-se um outro tipo de experiência que também recebe a designação de mito. Agora estamos falando do mito do super-herói, da estrela de cinema, do grande esportista, etc. Neste caso, o mito não é propriamente uma forma de conhecimento, pois não consiste numa interpretação da realidade; é, sobretudo, um tipo de experiência que, de alguma forma, vem preencher uma lacuna existente no homem.
Observe-se que, no caso dos mitos modernos, os ídolos despedem-se do caráter sagrado. Não são mais vistos como sendo da ordem do sobrenatural, mas percebidos numa perspectiva profana. Não são deuses nem espíritos que viveram em tempos remotos, mas “seres humanos de carne e osso” ou figuras oriundas da literatura, do cinema, das histórias em quadrinhos, etc., – da imaginação fabuladora, portanto, que têm a capacidade de realizar os mais íntimos desejos de seus cultuadores.
Movido por aspirações íntimas, premido por necessidades de todos os tipos, convocados pela propaganda a adquirir um determinado status, desejosos de firmar-se perante os outros, mas limitado economicamente, intelectualmente, em talento ou pelas próprias circunstâncias, o homem vê-se incapaz de atingir aquilo a que aspira ou o que dele se cobra. Temos aqui ingredientes básicos para a vivência mítica: alguém no caso, um processo de aproximação entre o homem e o ídolo, que pode ser uma pessoa (real) ou um herói nascido da imaginação fabuladora (imaginário). O ídolo realiza, de fato ou virtualmente, aquilo que ele, o homem, não consegue realizar.
A relação entre ambos – admirador e ídolo – pode dar-se das mais variadas forma: se, por exemplo, o admirador é uma pessoa desequilibrada, sua vivência mítica também o será; se for sadia, idem; o mesmo acontece no caso da alienação, do fanatismo, da ignorância, etc. Eis alguns exemplos: o assassino de John Lennon (desequilíbrio mental); a doentia imitação de seu ídolo da parte de um fanático admirador de um cantor de rock (alienação) ou a tranqüila fruição do talento de um grande compositor (equilíbrio). Por ser uma experiência vinculada ao subconsciente, a racionalização da vivência mítica normalmente leva a sua rejeição. A razão recusa-se a aceitar a presença da atividade fabuladora. O culto a um ídolo parece contrário à razão.
Também na mitologia primitiva existem ídolos, objeto de culto e veneração, no entanto, ali, seu culto insere-se no contexto de uma longa tradição, tendendo para a continuidade, ou seja, para seus adoradores, estes parecem eternos. Na sociedade atual, a tendência é inversa. Os ídolos são criados da noite para o dia. Parecem ser de barro: facilmente são substituídos por outros. Acrescente-se a isto o alto faturamento financeiro no caso da mitificação de uma banda de música ou de um jogador de futebol, só para citar alguns exemplos.
De um modo geral, os mitos da atualidade vêm preencher os vazios deixados pelo abandono de certos valores, como os éticos ou os da comunicação autêntica.


REFERÊNCIA
HRYNIEWICZ, Severo. Para filosofar hoje; Introdução e história da Filosofia. 5 ed. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2001.

O Mito Hoje [1]

O Mito Hoje

Daniele Kovalski[2]

O pensamento mítico é uma explicação da realidade desprovida de qualquer rigor metodológico. Contrapõe-se ao logos, que tenta explicar a realidade utilizando-se de conceitos racionais.
Na antiguidade, o mito ia de encontro aos interesses da aristocracia rural, uma vez que a economia da polis era essencialmente agrária. Todos tinham deveres para com os deuses, as cerimônias religiosas eram obrigações cívicas.
As narrativas míticas respondiam a questões como a origem do universo, vida e morte, condição humana, etc. Assim o mito era a visão de mundo grega, transmitida de geração para geração, durante séculos, por meio oral, tornando-se um aspecto essencial da vida comunitária, pois criava bases para a construção e compreensão da realidade. Com base nisso pode-se pensar de que forma o mito pode ser pensado nos tempos atuais.
Um dos muitos modos de compreendê-lo é pensar na forma que a sociedade enxerga a si mesma, ou seja, na maneira como ela enxerga o aparente como o real. Um bom exemplo dessa espécie de fantasmagoria é a noção que se tem do progresso cientifico. É desse progresso que nós nos alimentamos, nutrimos nossos anseios, ações expectativas e esperanças; porém, em uma sociedade onde o novo sempre é absorvido, onde o amanhã sempre reserva alguma novidade, ocorre exatamente um alargamento das estruturas do sistema, fazendo com o progresso, na verdade, seja uma realidade que nunca se concretize. Ao alimentar nosso imaginário, portanto, o progresso pode ser entendido como um mito da modernidade.
Para o filósofo da ciência francês Gaston Bachelard, o conhecimento científico é um processo contínuo de retificação. Dessa forma ele entende que, na verdade, esse conhecimento é uma constante reforma de uma ilusão.
Outra forma de abordagem da atualidade do mito é questionar o lugar do mito ontem e da ciência hoje, ou seja, qual a relação que os antigos faziam com o mito e qual a nossa relação com a ciência hoje?
Assim como na antiguidade, onde a manutenção do mito atendia aos interesses de uma determinada classe, podemos questionar se no nosso tempo o conhecimento científico e tecnicista não estaria atendendo aos interesses do capital e das elites que financiam a sua própria produção? Vivemos, então, em uma era de culto, do mito moderno da racionalidade?
O filósofo da ciência inglês, Alan F. Chalmers destacou que a alta consideração que a ciência desfruta na atualidade. Sempre que se recorre ao “cientificamente comprovado”, estar-se-ia na verdade, fazendo-se um apelo à autoridade da ciência, ou seja, basta que se recorra a tal para que algo que se diga seja tomado como a mais absoluta verdade. Logo esse apelo seria muito mais uma crença popular, que um método eficaz de impor a verdade.



Referências:
CHALMERS, Alan F. O que é Ciência afinal? São Paulo: Editora Brasiliense, 1993.
[1] Texto apresentado à Prof. M. Rosâni Kucarz da Cunha, para a disciplina de Prática Profissional em Filosofia IV

[2] Graduanda do 4º período de Licenciatura em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná

terça-feira, 16 de junho de 2009

Inicial

Olá amigos;


Estamos iniciando nossos trabalhos em nossa página do blogger. Sejam todos Bem-vindos